A construção do prédio da Antiga Estação dos Bondes representou um ponto crucial no desenvolvimento da cidade de Sacramento, MG, no início do século XX. O Coronel José Afonso de Almeida, na sua posição de agente executivo da época, teve um papel crucial na construção da Estação dos Bondes, que foi erguida em 1913 e serviu como estação de embarque dos bondes elétricos que ligavam Sacramento-MG à Estação Ferroviária do Cipó. O projeto pioneiro foi concebido pelo engenheiro Joaquim Carrão e se concretizou graças ao financiamento proveniente da venda de apólices e ao investimento de fazendeiros locais, bem como ao aporte de capital vindo da capital Belo Horizonte. A companhia alemã “Bromberg & Companhia” desempenhou um papel central na implantação dos bondes elétricos, que inauguraram suas operações em 15 de novembro de 1913, impulsionados pela energia fornecida pela Usina Cajuru, que forneceu energia à cidade de Sacramento e Conquista durante 50 anos.
A construção da Estação dos Bondes proporcionou, também, a instalação de máquinas de beneficiamento de café nas suas proximidades, agilizando significativamente a logística do transporte de grãos para a Estação Ferroviária do Cipó. Além disso, o desenvolvimento econômico atraiu famílias de trabalhadores que passaram a habitar nas circum-adjacências. Esses trabalhadores deveriam não apenas fazer funcionar as máquinas de beneficiamento, mas também desempenhar outras funções, estas relacionadas à operação da estação dos bondes. Essa expansão econômica e urbanística transformou a cidade de forma significativa, consolidando assim a importância da Estação dos Bondes em Sacramento-MG.
Entretanto, em 1937, o funcionamento da linha de bondes foi suspenso, a linha teve a venda consumada no ano seguinte, e o processo resultou no abandono da estação. Em 1983, a estrutura foi devidamente tombada como patrimônio histórico municipal e, um ano depois, passou por um minucioso processo de restauração, ressurgindo sob a nova denominação de “Palácio das Artes”. Nos anos subsequentes, a antiga estação serviu de sede para a Associação Musical de Sacramento “Banda Lira do Borá” e a “Associação de Artistas e Artesãos de Sacramento (ASAA)”. Em 2009, durante a gestão do prefeito Wesley De Santi de Melo, serviu como sede do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural. Atualmente o prédio se encontra fechado a fim de ser restaurado.
A histórica estação ostenta um estilo eclético, de linhas singelas, traço comum entre as estações ferroviárias do final do século XIX e início do século XX, seguindo o modelo britânico. Sua presença é marcada por uma ampla varanda e um telhado de duas águas, com uma cúpula evocando as fortificações dos castelos ingleses.
A estrutura é erigida em tijolos de adobe, com uma pintura predominantemente branca adornada com detalhes em azul “royal”. A varanda apresenta um piso de pedra que envolve um gramado delimitado por uma cerca de madeira, oferecendo uma vista encantadora da rua. A estação ainda preserva um segmento de trilho e uma plataforma de deslizamento no gramado. No interior da estação, o forro e o assoalho são feitos de madeira, com portas e janelas de duas folhas, enriquecidas por detalhes nas maçanetas. O tipo de madeira predominante, possivelmente, é o cedro. A história do imóvel, cheia de transformações ao longo do tempo, ecoa através desses detalhes arquitetônicos e serve para preservar a memória da nostálgica era dos bondes elétricos de Sacramento.
Este texto faz parte do Projeto ‘Arquitetura e Memória: Inventariando o Patrimônio Edificado de Sacramento’, que tem como objetivo divulgar a história das edificações de valor cultural e arquitetônico no município.