Período pré-colonial
As datações mais recuadas em sítios arqueológicos na região de Diamantina foram obtidas a partir de vegetais carbonizados, encontrados em fogueiras localizadas em grutas próximos a córregos da bacia do rio São Francisco. No sítio Lapa do Caboclo foram obtidas duas datas (10.560 Antes do Presente e 10.380 Antes do Presente), enquanto no sítio Lapa do Peixe Gordo, uma datação de 10.210 AP foi gerada em uma fogueira a cerca de 30 centímetros de profundidade. Assim, Diamantina apresenta datações praticamente contemporâneas às observadas em sítios arqueológicos da região de Lagoa Santa, onde foram encontrados Luzia e outros remanescentes ósseos humanos, além de diversos materiais arqueológicos relacionados ao povoamento humano das Américas em fins do Pleistoceno.
Além dos restos de alimentos e de fogueiras, nos sítios arqueológicos mais antigos também foram encontrados antigos instrumentos feitos em pedra, quase sempre utilizando como matéria-prima o quartzo ou o quartzito. Feitos a partir de lascamento de pedaços dessas rochas, alguns desses instrumentos formavam antigas pontas de projétil, percutores e vários tipos de lâminas. Ferramentas feitas a partir de madeira e ossos de animais, apesar de provavelmente frequentes entre esses grupos humanos, não foram encontrados nos sítios devido aos processos de decomposição desses materiais.
Outro indício da presença humana pré-colonial em Diamantina são as pinturas e grafismos rupestres, identificados em dezenas de grutas e abrigos de caverna ao longo da Serra do Espinhaço. Apesar de conhecidas desde meados do século XIX, quando foram citadas em um romance escrito por Joaquim Felício dos Santos em 1868, jurista natural de Serro, só foram objeto de estudo arqueológico a partir da década de 1970. Muitas das pinturas e gravuras rupestres encontradas foram feitas com pigmentos vermelhos e, em menor medida, amarelos, brancos e pretos, representando cervídeos e peixes. Embora menos frequentes, algumas das grutas também contam com pinturas antropomórficas.
Entre 1200 e 680 anos Antes do Presente, um outro processo de ocupação ocorreu na região de Diamantina. Também identificados nas grutas e abrigos de caverna, esses sítios contam com diversos instrumentos feitos em pedra, restos de alimentação e sepultamentos humanos de grupos indígenas agricultores. Ao contrário de ocupações contemporâneas identificadas em outras regiões de Minas Gerais, não foram encontrados vasilhas ou fragmentos de cerâmicas nos sítios arqueológicos dessas populações. Dos 90 sítios arqueológicos já identificados em Diamantina, 72 correspondem ao período pré-colonial. Além disso, em outros 10 sítios arqueológicos foram identificados testemunhos materiais de ocupações pré-coloniais e históricas, o que indica que as centenas de grutas e abrigos seguiram servindo de acampamentos provisórios para garimpeiros, caçadores e coletores de sempre-vivas em tempos recentes. Em outro sítio arqueológico, batizado de “Lapa da Contagem 1”, antigos vestígios de garimpeiros foram encontrados por arqueólogos em 2017, lembrança do período em que as serras de Diamantina foram exploradas intensamente por brasileiros e portugueses em busca de ouro e diamantes.
Antes da chegada dos colonizadores portugueses, no século XVI, o território que atualmente constitui o estado de Minas Gerais era habitado por grupos indígenas etnicamente diversos. Na região do Vale do Jequitinhonha e áreas próximas, há o registro de etnias como Kaposo (Copoxós), Panyame (Panhames), Malali (Malales) e Monoxó, com fontes indicando sua presença ainda na primeira metade do século XIX. Contudo, o processo de colonização portuguesa na região fez com que boa parte dos nomes das populações que habitavam o centro-norte de Minas Gerais não chegasse até os dias atuais, tendo em vista as mortes causadas por doenças e guerras contra os indígenas. Populações falantes de idiomas tupi-guarani também foram descritas pelos portugueses como habitantes dos arredores do Jequitinhonha, como os Abaetés e Caetés. Além disso, há registro da presença de grupos relacionados ao tronco linguístico Macro-Jê, como os Kayapós, Kariris e Xakriabás.
Um dos poucos relatos remanescentes do início da colonização foi escrito em 1555 pelo padre jesuíta João de Azpilcuelta Navarro, no qual este menciona a presença de “Tapuzas”, “Tamoyas” e “Cathiguzús” no que viria a ser o nordeste mineiro. Esses nomes se assemelham aos termos genéricos “Tapuias”, “Tamoios” e “Cataguases”, bastante utilizados em documentos históricos posteriores para se referir às populações indígenas que habitavam o sudeste do Brasil. Partindo de Porto Seguro, Navarro alcançou a cabeceira do Jequitinhonha junto de uma expedição de reconhecimento de território, a qual também tinha por objetivo encontrar jazidas de metais preciosos. Por conseguinte, o relato também descreve conflitos travados contra “índios ferozes” ao longo dos três meses de duração da viagem, assim como algumas rápidas descrições de rituais religiosos.
A fundação do arraial do Tejuco e a exploração dos diamantes
Igreja de São Francisco de Assis, cuja construção se iniciou no século XVIII.
A origem do arraial do Tejuco remonta ao processo de expansão colonial contínuo sobre os sertões do vale do Jequitinhonha. Com a descoberta de ouro na confluência dos rios Pururuca e Grande, no início do século XVIII, a região onde hoje está Diamantina começou a atrair garimpeiros, levando a fundação do arraial em 1713. Nesse primeiro momento do povoado, há registro da construção de uma capela em homenagem ao padroeiro, Santo Antônio, nas encostas da Serra da Lapa.[28] Segundo consta, o nome do arraial viria do tupi tyîuka, “água podre”, Tejuco e Ybyty’ro’y (palavra tupi que significa “montanha fria”, pela junção de ybytyra (“montanha”) e ro’y (“frio”). Outra interpretação do nome escolhido para o arraial confirma a origem tupi, significando “barro escuro” ou pântano”.
Durante as buscas por veios de ouro nos morros e vales ao norte da comarca de Serro Frio, alguns garimpeiros encontraram jazidas de diamantes. Inicialmente exploradas de forma clandestina, inclusive por oficiais da Coroa de Portugal, somente em 1729 a existência de minas de diamantes foi oficialmente reconhecida. Assim, alguns documentos do período atribuem ao português Bernardo da Fonseca Lobo a descoberta de diamantes em suas datas de mineração e, a partir de então, o arraial se tornou uma das mais desejadas áreas de garimpo da Capitania de Minas Gerais.
O controle administrativo tão intenso sobre a chamada Demarcação Diamantina não se deu logo de início, todavia. Entre 1729 e 1734, a exploração das jazidas de diamantes era permitida à particulares, mediante a cobrança de uma taxa de capitação sobre cada escravo utilizado pelos mineradores. Movidos pelos lucros do comércio diamantífero, a exploração particular colocou diamantes em demasia no mercado internacional, provocando uma queda significativa no seu preço. Esse contexto de instabilidade, além do risco real de prejuízo em virtude do contrabando, contribuiu para que Dom João V ordenasse a proibição total da mineração de diamantes em 1731, situação posteriormente revertida no ano seguinte.
Em 1734, a primeira tentativa lusitana de estabelecer um controle maior e mais efetivo sobre a extração, através da demarcação do Distrito Diamantino (abarcando não só Tejuco, mas também os arraiais de Gouveia, São Gonçalo, Milho Verde, Rio Manso, entre outros) e da criação da Intendência dos Diamantes. Como forma de organizar a exploração e o comércio de diamantes, a partir de 1740 tem início o regime de contrato de extração, terceirizando a uma companhia particular a atividade. Apesar de algumas fontes indicarem o início desse sistema já em 1738, a primeira arrematação das minas em licitação teria ocorrido só em 10 de junho de 1739. Com duração de quatro anos, os contratos previam que toda a organização do trabalho ficaria a cargo dos contratantes, cabendo à Intendência dos Diamantes a fiscalização e repressão ao contrabando. O regime de contratos durou até 1777, quando um decreto determinou a criação da Junta da Administração Diamantina do Tejuco. A partir de então, toda a extração de diamantes ficaria por conta da Fazenda Real: a partir de agora, somente a Coroa de Portugal poderia extrair e venda essa mercadoria. Implementado pelo Marquês de Pombal, o decreto também criava uma série de regulamentos rígidos para o Distrito Diamantino, todos reunidos no célebre Livro da Capa Verde.
Casarões na Rua Direita
Como forma de manter o domínio total da Coroa sobre o território da Intendência dos Diamantes, o arraial do Tejuco permaneceu como uma simples capela filial ligada à Vila do Príncipe (atual Serro) até 1819, quando foi elevada à condição de sede paroquial e distrito municipal. Permanecia assim o Intendente como única autoridade local, evitando possíveis rivalidades com autoridades eclesiásticas. Apesar do aparato fiscalizador repressivo estabelecido pela Coroa Portuguesa, o arraial de Tejuco refletia a importância econômica da mineração de diamantes, sendo frequentes as menções em documentações da época a respeito da riqueza e sofisticação das elites locais. Entre os anos de 1750 e 1775, o arraial do Tejuco tinha 884 moradores livres, além de cerca de 500 casas distribuídas por 19 ruas e 7 becos. Algumas décadas depois, já no século XIX, já contava com 800 casas (ou fogos, nos documentos da época) e 6.000 habitantes. Assim, na virada do século XVIII para o XIX, apesar de não ser uma vila ou município independente, o arraial do Tejuco era a terceira maior povoação da Capitania de Minas Gerais, atrás da capital Vila Rica, hoje Ouro Preto, e com população semelhante à da próspera São João del-Rei.
Durante o século XVIII, a cidade ficou famosa por ter abrigado Chica da Silva, escrava alforriada que era esposa de um dos homens mais ricos do Brasil Colonial, o contratador dos diamantes João Fernandes de Oliveira.Em consequência da demanda por mão-de-obra nas lavras de diamantes, o arraial do Tejuco se tornou um polo importador de africanos escravizados. Em pesquisa arqueológica recente, motivada pela reforma da Casa de Chica da Silva, foram evidenciadas cerca de 30 mil peças arqueológicas do início do século XIX, dentre as quais diversos fragmentos de cachimbos cerâmicos, tratando-se de um exemplo claro da influência material africana e afro-brasileira no cotidiano da antiga Tejuco. Entretanto, apesar do mito em torno da figura de Chica da Silva ocasionalmente servir como “prova” de uma convivência amistosa e harmônica entre diferentes grupos sociais e raciais, não se deve perder de vista a brutalidade do cotidiano ao qual a população cativa era submetida nas lavras de diamantes.
Consequentemente, assim como em outras regiões do Brasil, muitos africanos e afro-brasileiros que escapavam do cativeiro durante os séculos XVIII e XIX formaram comunidades rurais longe das áreas de mineração, aproveitando os morros e grutas da Serra do Espinhaço para se protegerem. De acordo com os bancos de dados do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), vestígios arqueológicos de antigos quilombos foram encontrados nos sítios “Cemitério da Comunidade Quilombola do Quartel do Indaiá”, “Quilombo da Serra Luanda”, “Lapa do Quilombo do Roçado”, “Quilombo do Roçado”, “Quilombo do Sobradinho”, “Quilombo da Cabaça” e “Quilombo do Guinda”. Por sua vez, segundo a Fundação Cultural Palmares, em Diamantina há três comunidades quilombolas reconhecidas oficialmente (Mata dos Crioulos, Vargem do Inhaí e Quartel do Indaiá), todas formadas durante o período da mineração de diamantes.
Emancipação do arraial do Tejuco e crise dos diamantes
Centro Histórico de Diamantina
Com o declínio da extração diamantífera ao longo da primeira metade do século XIX, ocorreu uma gradual alteração da produção econômica regional, assim como em outras regiões minerárias da agora Província de Minas Gerais. Ao longo dos anos, a produção agropecuária que surgiu no entorno de Tejuco para abastecer sua população eventualmente tornou-se a principal atividade econômica. O famoso viajante francês Auguste de Saint-Hilaire chegou a visitar o arraial do Tejuco em 1816, descrevendo de forma elogiosa a limpeza e tamanho de suas ruas, o bom estado de manutenção das casas, os ornamentos das muitas igrejas existentes na localidade e até a qualidade dos artigos vendidos nas lojas.
Em 1819, o arraial de Tejuco foi elevada à condição de distrito da vila do Príncipe. Para além de simples mudanças nas administrações política e eclesiástica, estas decisões são também reflexo da diminuição do poder dos Intendentes. Assim, apesar de contar com uma população maior que a Vila do Príncipe desde meados do século XVIII, a emancipação de Diamantina ocorreu somente em 1831, através de Decreto datado de 13 de outubro daquele ano. Nesse mesmo ano, o antigo arraial passou a se chamar Diamantina, fazendo referência à atividade econômica que fez surgir a localidade. Ainda assim, o desmonte definitivo da tão temida Intendência dos Diamantes só ocorreu em 1832, após muitas reivindicações oficiais da população. Em 1838, Diamantina foi elevada à condição de cidade, reflexo da posição de destaque conquistado pelo antigo arraial no norte do estado de Minas Gerais. Na segunda metade do século XIX, Diamantina recebeu o apelido de “Atenas do Norte” de sua própria elite intelectual e econômica, fazendo referência ao papel da imprensa e literatura entre os diamantinenses dos Oitocentos, característica também notada por Auguste de Saint-Hilaire em 1816. A vida em Diamantina no final do século XIX foi retratada por Alice Brant no seu livro Minha Vida de Menina, que se tornou um marco da literatura brasileira após ter sido redescoberto por Elizabeth Bishop.
Em razão do crescimento populacional de seus numerosos distritos, a configuração administrativa do município de Diamantina foi sendo paulatinamente alterada ao longo do século XX, É o caso dos antigos distritos de Monjolos, Datas, Couto de Magalhães de Minas, Senador Modestino Gonçalves, entre outros, todos elevados à condição de municípios na década de 1960. Tal crescimento se deve em parte ao desenvolvimento das malhas ferroviária e rodoviária regionais, contribuindo para a facilitação do escoamento de suas produções agrícola e pecuária.
Em 1938, Diamantina comemorou seus cem anos de elevação à categoria de cidade, recebendo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional o título de “patrimônio histórico nacional”. Com a chegada de Juscelino Kubitschek ao governo do estado e posteriormente à Presidência da República são feitas muitas melhorias em Diamantina, como a fundação da Faculdade Federal de Odontologia de Diamantina, do Hotel Tijuco, da Escola Estadual Júlia Kubitschek e da Praça de Esportes de Diamantina. No ano de 1999, foi elevada à categoria de “patrimônio da humanidade” pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Turismo
Centro Histórico de Diamantina ★
Património Mundial da UNESCO
Centro Histórico de Diamantina
Critérios ii, iv
Referência 890 en fr es
Região ♦ Brasil
País Brasil
Coordenadas 18º14’S 43º36’W
Histórico de inscrição
Inscrição 1997
★ Nome usado na lista do Património Mundial
♦ Região segundo a classificação pela UNESCO
Apesar do grande número de turistas, a infraestrutura para receber visitantes é considerada inferior à de Ouro Preto, a primeira cidade no estado a ser reconhecida pela Unesco, e na capital de Minas, Belo Horizonte. Um grande gargalo é o trânsito, contando com uma frota local crescente e chegada de muitos carros nos fins de semana. Diamantina é também conhecida por suas serestas e pela vesperata, que é um evento em que os músicos se apresentam à noite, ao ar livre, das janelas e sacadas de velhos casarões, enquanto o público assiste das ruas. Um dos grandes impulsos turísticos de Diamantina é o famoso Parque Estadual do Biribiri, com suas águas cristalinas e cachoeiras, entre elas se destaca a Cachoeira das Fadas e a Cachoeira do Telésforo, localizadas no distrito de Conselheiro Mata. Um grande marco histórico e turístico da cidade é o Centro Histórico de Diamantina, que guarda grandes lembranças do tempo colonial, em destaques por seus grandes e belos casarões e igrejas coloniais que retratam um pouco do Século XVIII. A cidade ainda se localiza no Vale da Serra do Espinhaço, propício para turismo de Diamantina. As paisagens exuberantes do vale podem ser observadas pela Trilha Verde da Maria Fumaça, uma trilha ecológica voltada para o ciclismo, oriunda de um antigo leito ferroviário do extinto Ramal de Diamantina da Estrada de Ferro Central do Brasil e que liga o município às cidades de Santo Hipólito e Corinto, passando pelo distrito de Conselheiro Mata e pelas cidades vizinhas de Gouveia e Monjolos.
Pontos turísticos
Diamantina tem vários pontos turísticos:
Parque Estadual do Biribiri
Parque Nacional das Sempre-Vivas
Museu do Diamante
Instituto Casa da Glória
Cachoeira do Telésforo
Cachoeira das Fadas
Gruta do Salitre
Casa da Chica da Silva
Catedral Metropolitana de Diamantina
Igreja de Nossa Senhora do Carmo
Casa de Juscelino Kubitschek
Igreja de São Francisco de Assis
Cachoeira dos Cristais
Praça JK
Cachoeira da Sentinela
Teatro Santa Izabel
Antiga Casa da Intendência
Basílica do Sagrado Coração de Jesus
Serra dos Cristais
Igreja de Nossa Senhora do Amparo
Antiga Estação Ferroviária de Diamantina.
O que fazer: Diamantina
Confira atrações e atividades imperdíveis:
Vila de Biribiri, Museu do Diamante, Cachoeiras, Locais históricos